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Os acordos comerciais têm se mostrado fundamentais para reposicionar a pauta exportadora do Brasil em meio a cenário global marcado por instabilidades e tensões – especialmente em meio à guerra comercial entre EUA e China.

A economia brasileira se apoia historicamente em exportações de commodities, com cerca de 70% delas, hoje destinadas à China. Mas a exposição excessiva a poucos mercados, além da volatilidade das cadeias de suprimentos, motivou o país a buscar parcerias que diversificassem seus clientes e incentivassem um avanço na agregação de valor aos produtos exportados.

O ponto é que, mesmo assim, o Brasil permanece fechado aos fluxos globais de comércio enquanto, em paralelo, se vê diante da necessidade de avançar na celebração e na implementação de acordos comerciais internacionais.

É por isso que se tornou fundamental avançar em uma abertura comercial progressiva e abrangente – o que requer não apenas uma ampliação da rede de acordos com países de elevado potencial de consumo, mas ainda a reestruturação estratégica do Mercosul, para tornar o bloco mais flexível. 

Esse é o caminho que deveria ser adotado.

Não é trivial que um dos acordos mais emblemáticos hoje é o do Mercosul com a União Europeia, que tem sido objeto de negociações há mais de duas décadas. Será um dos maiores tratados comerciais do mundo, envolvendo 31 países com um mercado de 718 milhões de consumidores e um PIB de US$ 22 trilhões.

A UE foi o segundo maior parceiro comercial do Brasil em 2024, com corrente comercial de US$ 95,3 bilhões, ou cerca de 16% do nosso comércio exterior.

O setor de serviços é um ponto relevante que está contemplado, porque a UE é a principal exportadora de serviços do mundo (faturou cerca de US$ 2,9 trilhões e dominou 36% das vendas globais em 2023) e, ao mesmo tempo, é um mercado a desbravar. Em 2024, as trocas dentro desse setor entre Brasil e União Europeia alcançou um total de US$ 14,2 bilhões, montante que deve aumentar muito com o acordo. 

Se o tratado for aprovado pelos parlamentos, vai diminuir a dependência de mercados tradicionais e forçar setores domésticos a se modernizarem, se adequando aos requisitos de sustentabilidade e responsabilidade social – aspectos valorizados na Europa.

O Mercosul tem seguido a linha de acordos, vale dizer. Em 2023, o bloco assinou um com Singapura, que hoje é o sexto maior destino das exportações brasileiras, e tem negociações avançadas com os Emirados Árabes Unidos e com o bloco EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein), além de conversas com o Panamá, El Salvador e México. 

Para além do bloco sul-americano, o Brasil vem fortalecendo laços com a China. O Plano de Cooperação para o Estabelecimento de Sinergias entre Brasil e China, firmado em 2023, por exemplo, alinha programas domésticos – como o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Nova Indústria Brasil e o Plano de Transformação Ecológica – com iniciativas chinesas, sobretudo a já famosa Cinturão e Rota.

No ano passado, quando o presidente chinês, Xi Jinping, esteve no Brasil, ele assinou um portfólio de 37 acordos bilaterais entre setores como habitação urbana, energia nuclear, agronegócio, tecnologia e estrutura.

E não são apenas os blocos: o Brasil também participa de acordos no âmbito da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), que promove a integração econômica com países da região com benefícios tarifários e harmonização de políticas comerciais. Essa estratégia regional não só facilita o acesso a mercados vizinhos como contribui para criar cadeias produtivas mais robustas.

Esses novos acordos são fundamentais para o Brasil se abrir ao mundo do jeito que entendemos ser importante ao país. Diversificam destinos exportadores, fortalecem competitividade dos setores nacionais, ao incentivar modernizações tecnológicas e produtivas, e proporcionam um ambiente de maior previsibilidade para o investimento estrangeiro. 

Em um mundo onde as tensões comerciais entre gigantes podem gerar um efeito dominó, com instabilidade dos preços e oscilações do câmbio, contar com uma rede diversificada de acordos oferece uma margem de manobra estratégica, reduzindo vulnerabilidade e abrindo espaço para o desenvolvimento de cadeias de valor. É uma mudança que precisa se consolidar, mas cujo esforço é louvável. 

Estar preparado para atravessar o cenário atual é essencial.

FONTE: JOTA - RUBENS MEDRANO